Você já ouviu falar em neurocirurgia com paciente acordado? A técnica de cirurgia cerebral com paciente acordado é usada em diversos países, incluindo o Brasil. Seu sucesso é considerado um avanço, por isso é indicada para o tratamento de lesões próximas às áreas importantes do cérebro. O método é praticado em alguns tratamentos realizados pelo Corpo Clínico da Tracto Neuro, de São Paulo.
A cirurgia cerebral acordada, também chamada de craniotomia acordada, é um procedimento realizado no cérebro enquanto a pessoa está acordada e alerta. Segundo os especialistas, é um tipo de neurocirurgia que reduz o risco de danificar áreas consideradas críticas do cérebro, como aquelas que controlam a fala e outras habilidades.
Neurocirurgia com paciente acordado é método menos invasivo e pode tratar diversos tipos de condições cerebrais.
Neurocirurgia com paciente acordado trata tumores cerebrais e convulsões epilépticas
Esse tipo de neurocirurgia com paciente acordado é usado para tratar algumas condições cerebrais como tumores cerebrais e cirurgias funcionais como cirurgia de epilepsia e Parkinson.
Se o tumor ou a área do cérebro onde ocorrem as tais convulsões (foco epilético) estiver perto das partes que controlam a fala, a visão ou o movimento, por exemplo, pode ser necessário que o paciente esteja acordado durante a cirurgia.
O procedimento reduz o risco de danos a áreas funcionais do cérebro que podem afetar as partes que comandam as funções importantes do cérebro, como habilidades motoras e linguagem.
Isso porque a cirurgia cerebral acordada permite que o neurocirurgião monitore exatamente quais áreas do cérebro controlam essas funções e as evite na hora da cirurgia.
Método de neurocirurgia é menos invasivo e reduz riscos ao paciente
O método da cirurgia cerebral acordada promete menos riscos de sequelas ao paciente, mas só deve ser considerado e aplicado mediante análise do neurocirurgião responsável e também aprovação e bem-estar do paciente.
“O método reduz, comprovadamente, as sequelas e ainda possibilita ao paciente uma melhor qualidade de vida”, garante o neurocirurgião Afonso Henrique Dutra de Melo, da Clínica Tracto Neuro.
“A indicação é para os casos em que há um tumor ou uma lesão próximo à fala, sendo necessário monitorar para saber se está sendo comprometida a área da fala ou não. Ou quando é realizada em um tumor próximo à área motora e o paciente é um violinista, por exemplo”, explica o neurocirurgião.
Como a cirurgia cerebral acordada é realizada
Antes da cirurgia cerebral acordada, o paciente é sedado pelo anestesista para ficar sonolento. Além disso, o neurocirurgião aplicará medicamentos entorpecentes no couro cabeludo para garantir seu conforto. Durante a cirurgia, a administração dos sedativos é interrompida, o que permitirá que o paciente acorde.
Se o tumor cerebral ou foco epiléptico estiver próximo às áreas cerebrais que controlam a visão, movimento ou a fala, é então realizado um mapeamento dos centros cerebrais que controlam cada uma dessas funções.
Este mapeamento cerebral, junto com imagens em 3D, permite que o neurocirurgião remova, com mais segurança, o máximo possível do tumor cerebral ou foco epiléptico. Reduzindo, assim, os riscos de danificar funções importantes do corpo.
Neste caso, o neurocirurgião pode monitorar a atividade do cérebro do paciente enquanto ele responde a algumas perguntas ou faz alguns movimentos solicitados por ele ou por um fonoaudiólogo.
Dessa forma, podem ser identificadas imagens e palavras em cartões ou computador que tenham sido vistas antes da cirurgia, por exemplo. As respostas ajudam a identificar e evitar o acesso às áreas funcionais do cérebro do paciente.
Vantagens de optar pela cirurgia cerebral acordada
A cirurgia cerebral acordada oferece diversas vantagens aos pacientes. Especialmente àqueles que possuem tumores cerebrais ou centros de convulsão que ficam perto do tecido cerebral funcional cujas condições já foram consideradas inoperáveis.
Veja algumas dessas vantagens:
- Redução nas complicações e risco de danos do tecido cerebral funcional, para os casos de tumores cerebrais ou centros de convulsão estarem nessas regiões importantes;
- Redução, de forma segura, no tamanho dos tumores cerebrais em crescimento, melhorando a qualidade de vida ou até prolongando a vida do paciente;
- Controle da epilepsia, já que geralmente há melhora, extinção ou redução nas crises de convulsões após a cirurgia;
- Recuperação mais rápida, com tempo de pós operatório menor na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e no hospital, podendo retornar às atividades normais em um período que vai de seis semanas a três meses.
Cirurgia conta com análise multidisciplinar e atendimento humanizado
Toda cirurgia desta natureza deve contar com uma equipe multidisciplinar, de preferência dentro do centro cirúrgico, com psicólogo e fonoaudiólogo acompanhando o caso antes, durante e depois. A participação multidisciplinar ajuda a garantir a segurança e eficácia do procedimento.
Segundo Melo, neurocirurgião da clínica Tracto Neuro, a intervenção da psicologia durante a cirurgia, por exemplo, reduz os níveis de ansiedade, pois oferece melhora do bem-estar psicológico. Este fator também aumenta a adesão ao tratamento, agiliza o processo de recuperação pós-operatória, e, sobretudo, humaniza os cuidados junto ao paciente.
“A atuação de diversos especialistas durante determinado tratamento é altamente eficaz. E essa prática é algo que já fazemos e defendemos aqui na Tracto Neuro”, explica Melo.
Cada caso deve ser analisado pelo neurocirurgião e sua equipe, o paciente e sua família. Tudo para garantir que é a melhor escolha, em todos os aspectos, já que a opção envolve o sucesso e eficiência técnica, mas também questões emocionais.
São necessários testes pré e pós operatórios
É importante reforçar que, ao se indicar um procedimento com o paciente acordado, são necessários testes pré-operatórios para determinar se há algum grau de comprometimento de tais funções.
O tempo estipulado para consulta de acompanhamento com o médico será indicado em cada caso. O período, entretanto, costuma ser de cerca de três meses após a cirurgia.
Após a cirurgia, o neurocirurgião pode solicitar uma ressonância magnética para garantir que a remoção do tumor ou do foco epiléptico tenha sido completa. No entanto, é possível que ainda sejam necessários outros tratamentos, como radioterapia ou quimioterapia, para ajudar a destruir as partes remanescentes do tumor.
Dependendo do caso, o paciente precisa passar por uma reabilitação neurocognitiva. Isso para que retorne em curto período de tempo às suas funções habituais com boa qualidade de vida.
Casos de cirurgia com paciente acordado ganham repercussão
A primeira neurocirurgia do interior paulista para extração de tumor cerebral com a paciente acordada, através do Sistema Único de Saúde, foi realizada pelo Hospital Estadual de Sumaré (HE-Unicamp), em setembro de 2022.
A recepcionista, de 27 anos, era apta para este tipo de tratamento e não apresentou nenhum tipo de sequela. O tumor benigno, do tamanho de uma noz, foi retirado integralmente. Isso foi possível, apesar de ter sido considerado um procedimento de alta complexidade.
O motivo pelo qual se optou pela cirurgia com a paciente acordada, segundo os especialistas, foi devido à localização do tumor. Ele ficava em uma importante e complexa área do sistema nervoso central.
Enquanto cirurgias convencionais, em que o paciente está anestesiado, não é possível localizar as áreas essenciais, pelo fato do paciente estar imóvel.
Dessa forma , o risco de seqüelas, tanto na fala quanto no movimento são muito grandes”, explica dr Afonso.
Além disso, há a vantagem de um pós-operatório bem menos traumático. Com esta técnica, o paciente fica menos tempo na UTI e até mesmo no quarto de hospital. E pode retornar ao convívio da família e se recuperar mais rapidamente.
Casos recentes de cirurgias com o paciente acordado ganham repercussão nacional por serem realizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Este tipo de cirurgia conta com a participação de equipe multidisciplinar, formada por profissionais da fonoaudiologia e psicologia, dentro do centro cirúrgico.
Apesar dos ótimos resultados e diversas vantagens para o paciente, a técnica ainda é utilizada em poucos centros de saúde no Brasil. Especialmente aqueles que atendem pacientes assistidos pelo SUS. Isso se deve à multidisciplinaridade e complexidade de uma operação cerebral.
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Esperamos que ele tenha sido útil ajudar você a entender mais sobre a neurocirurgia com o paciente acordado. Assim fica mais facil decidir, juntamente com o seu neurocirurgião, no caso da recomendação para o seu caso.
No entanto, somente um neurocirurgião poderá determinar se este método é a escolha certa para você.